segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Escarlate


Montserrat, Espanha, mês de novembro. Faz frio. O vento sopra contra os entalhes naturais da montanha, deixando o clima um tanto misterioso, místico. Ali, funcionando há muitos anos o Café El Mercat que lança no ar o indicio das primeiras chamas do fogão a lenha. O cheiro leve de fumaça invade as ruas e convida os moradores e turistas a apreciar o melhor café da redondeza.

Ele já está lá, em sua mesa de sempre. Sentado, vestindo seu cachecol e seu terno quente e confortável, ele me parece um pouco aflito, ele ainda não sabe, mas eu já sei o que se passa na cabeça dele. Chama o garçom e pede o de sempre, café forte com pouco açúcar.

Ela chega, chega chamando atenção. Cabelos avermelhados, batom vermelho, a sua boca fica linda com esse batom, seus lábios são perfeitos, lindos, sedutores, convidativos a um beijo delicado. Sobretudo de lã preto, meias 7/8 de fios de lã e botas de couro. É possível ainda sentir o cheiro do couro. Senta no mesmo lugar de sempre e pede café forte com pouco açúcar.

Eles trocam olhares, ela o nota, faz tempo que ela o nota. Ele a observa quando ela não esta olhando, ele é tímido, de alguma forma se sente inferior a ela. Ele não sabe explicar, mas se sente. Ele deseja muito uma aproximação, saber um pouco mais da vida daquela mulher, ele se sente atraído por ela. Ela conhece os pensamentos dele.

Ele termina seu café, confere suas mensagens em seu celular e se levanta. Dessa vez ele não chamou o garçom pra pedir a conta, ele mesmo vai até o caixa. Solicita ao atendente sua conta, a paga e deixa paga a conta da mesa da mulher arrebatadora que aprecia há meses. Tira de seu terno de lã uma pequena caixa, nela um anel de ouro branco com um único rubi, um único rubi de grande proporção. Solicita que a entreguem. Vira as costas e sai. Anda com timidez, passa pela mesa dela e cruza seu olhar com o dela. Ela dá um pequeno sorriso quase imperceptível. Fecha seu terno e sai.

O vento sopra contra os entalhes naturais da montanha, deixando o clima um tanto misterioso, místico. O Café El Mercat lança mais uma vez no ar o indicio das primeiras chamas do fogão a lenha. O cheiro leve de fumaça invade as ruas e convida os moradores e turistas a apreciar o melhor café da redondeza.

Ele já está lá, em sua mesa de sempre. Sentado, vestindo seu suéter e seu terno quente e confortável, ele me parece um pouco aflito, a espera para saber qual a reação da mulher que não sai da mente dele há meses.

Ela chega, chega chamando atenção. No dedo o anel, um anel de ouro branco com um único rubi, um rubi de grandes proporções. Ela olha pra ele, não esboça reação nenhuma e o coração dele gela como as montanhas do lado de fora do café. Ele sempre sai primeiro, mas dessa vez será diferente. Esperará pacientemente que ela se levante e saia. Esperará em fim uma reação.

Ela se levanta, vai até o atendente e paga sua conta, pega emprestada a caneta e um guardanapo, escreve três palavras. Ele a observa mudo, ansioso.

Ela passa por ele e deixa em cima da mesa o guardanapo escrito e caminha até a porta. Ele lê

“Já tenho dona”. Ele sem entender olha pela janela. Ela dá um abraço delicado em uma morena de cabelos lisos e olhos azuis, linda como ela e a beija delicadamente e some da vista dele.

Ele coloca o guardanapo no bolso sem acreditar, a única coisa que sobrou dela foi aquele pequeno pedaço de papel escrito.

Dessa vez ele chama o garçom, pede sua conta e sai. Desacreditado, Desiludido.

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