domingo, 12 de abril de 2015

Destinos

Ele desperta assustado, o tremor é grande, assim como o frio que o cerca. Percebe que as pessoas estão agitadas e com medo. Vestido com sua camisa favorita e banhado com seu perfume ele olha ao redor.

Senhores passageiros apertem os cintos, é o que ele escuta.

Sacodidas violentas na estrutura do avião. Ele não se comove, já passou por isso diversas vezes. O momento não passa e segundo se tornam horas em situações como essa.

Passou, os rostos aliviados mostram que os segundo que se tornaram horas ficou no passado.

Está quase na hora do pouso, uma escala no centro do país faz com que a grande águia se incline para baixo.
Procedimentos são tomados.. o cinto mais uma vez afivelado. E a queda controlada por bits de computador começa acontecer.

A pista já pode ser vista, as luzes azuis sobre ela, indicam o caminho. Ele queria ter luzes azuis para indicar o caminho correto de algumas situações da vida.

Os pneus tocam a pista, e os portões de embarque podem ser vistos.

Ele relaxa, solta os cintos e vai lavar o rosto no banheiro. O frio é enorme, o ar condicionado está mil.

Entra no banheiro, olha no espelho e se reconhece. Ultimamente ele olha mais pra si mesmo do que pra outra pessoa. Lava o rosto e sai. Os passageiros da central do Brasil estão entrando. Alguns já embarcaram. Ele se dirige ao seu lugar. Poltrona 23A.

Quando chega ao seu lugar ele encontra alguém que antes não estava lá. Cabelos pretos, olhos expressivos, pele branca e um cheiro impar, jamais sentido antes.
Ele a observa. Sente seu cheiro, mesmo de longe, mas sente.

Sente ainda mais frio, só que esse um frio diferente.. Um frio na barriga, um frio no estômago.

Ele pede licença para sentar e ela olha nos olhos dele, sorri e revela um sorriso metálico. Uma obra de arte.

Os procedimentos começam, a grande águia mais uma vez vai tomar seu caminho. Corre como um leopardo na savana e todos sentem que o chão não o sustenta mais. Começa a grande viagem. Agora sem escalas.

Ela do lado dele, ele do lado dela. Ela não olha pra nada. Mas oferece sua mão a ele. Ele segura e não acredita no que está acontecendo. Finalmente eles se encontram. As mãos geladas e úmidas são unidas. Eles sabem que esse momento é único. Jamais acontecerá de novo.

33 mil pés de altitude, um sonho nas alturas acontece. Ele a beija e ela sente seu sabor pela primeira vez. Ele respira ofegantemente. Ela também.

Acaricia seu rosto.

Os destinos seriam os mesmos?

Nunca se saberá.

A águia se transforma em uma bola de fogo. Os destinos para muitos foram o mesmo. Mas não para eles.

Unidos com suas mãos. São encontrados.

Acabou o sonho. O destino não foi generoso com eles.

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