quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

O Grito


Ele corre de um lugar ao outro. Aflito. Seu gestual é ansioso, ele quer gritar e não consegue. 

Sua voz não sai da garganta e isso o incomoda, mas desde quando ele era criança era assim. 
Seus semelhantes mais velhos conseguiram, em alguma parte da vida, tirar a sua voz. 
Ele cresceu assim, com vontade de gritar mas não conseguia e então ele se acostumou com isso. 
Acatava quase tudo o que lhe diziam e isso começou a se tornar normal. 

Gritar ou falar aquilo que devia se tornou algo desrespeitoso. Não podemos afrontar ou gritar com os mais velhos. Precisamos respeitá-los. 
Gritar sozinho era sinônimo de loucura. 
Você não sente dor, porque gritar? 

A dor nem sempre é na carne. É na alma. Algumas pessoas te esbofeteiam sem levantar as mãos. 
Arrancam pedaços da sua alma e nunca mais devolvem. 

Gritar seria uma saída. Desesperadora? Não sei.. mas pode ser uma saída. 

É por isso que ele corre.. de um lugar ao outro, aflito e com ansiedade. Está chegando a hora de gritar. 
Ele aprendeu, só está esperando o momento certo. 

E como de costume, o roubam mais uma vez. Não o consideram. O fazem de otário. mais uma vez. 

A hora de GRITAR chegou. 

Ele grita... em volume alto.. pra todo mundo escutar. 

Depois de tantos anos.... chegou a hora... mas as pessoas não reconhecem sua voz.  O grito foi no vácuo e ninguém escutou nada. 

Nem o eco o considerou. Vazio, nulo..sem efeito. 

Como em um sonho.. que logo se disipa. Foi assim seu grito. 

Um chamado sem resposta. 



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