sábado, 23 de maio de 2015

Despedida

A noite fria é quase insuportável. O frio invade a casa.
Escuta uma música longe. Tenta decifrar qual é. Não é o momento certo para músicas.
Ela toda arrumada, sentada em sua cama espera pelo carro chegar. As lagrimas escorrem de seu rosto. Não pode chorar, tem que ser forte.
Pensa em tudo que viveu até aquele momento. Olha no espelho e se vê.  Angelical. Tão bonita para um momento como aquele? Sim. É necessário. Vestido longo de manga longa. Sandália. Lindos pés.
O carro chega...  ela desce as escadas e olha pra casa onde sempre morou. Acabou. Ali não é mais seu lugar.
Ela entra no carro. Séria. Nervosa. Jamais pensou que passaria por tal situação. Mas está ali, passando por tudo aquilo. Quase inacreditável.
O carro percorre as ruas vazias. Da janela ela nota um homem de rua fazendo sua refeição em um prato descartável, satisfeito e feliz.
O semáforo fica verde e o carro percorre.
Nesse momento se lembra de quando era criança. De suas brincadeiras infantis. Lembra-se também de suas amigas, meninas amigas. Onde será que estão? Faz-se essa pergunta.
Lembra-se do dia em que caiu de bicicleta e quebrou o pé. A dor. O choro. O amparo. Olha para seus pés e os vê. Lindos. Em uma sandália.
O pai dela a espera para dar força a esse momento tão emocionante. Lembra-se do pai e chora. Não pode. Tem que ser forte.
O carro para. Ela pede a Deus força e sai. Seu pai a espera.
Ele segura em suas mãos suadas, nervosas. A beija na testa.
Está preparada filha?
Acena com a cabeça que sim. Seu rosto se ilumina e sorri. Sorri como nunca sorriu antes.
As portas se abrem. As pessoas que a esperam, levantam-se. Luzes, flores e Deus, ali, representado na cruz.
Agora é a hora da música. A pequena orquestra toca e ela entra triunfante.  Emocionada. De mãos dadas com seu pai. Lindo pai.
Olha pra frente e vê o homem da sua vida que em breve falará pouco, mas falará aquilo que ela sempre quis escutar. O SIM.
Ela está linda, ele também. O pai a entrega para o noivo, futuro marido, instantes separam esse momento.
Firme e convicta diz seu SIM e também escuta um SIM em retribuição ao seu amor.
Ela sabe que nunca mais sua vida será a mesma.
Não olha pra trás. Segue em frente e se despede de tudo aquilo que ficou no passado. Presente e futuro. É isso que importa.
Dessa vez não tem sonho. É realidade.
Dessa vez não tem morte, é vida.

Desta vez não tem tristeza. É só felicidade. 

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